quinta-feira, 19 de junho de 2025

A Origem da rivalidade histórica entre Israel e Irã

A rivalidade entre Israel e Irã é um dos conflitos mais complexos do mundo. As consequências de rivalidade moldam a segurança e a estabilidade do Oriente Médio, e colocando repetidamente a atenção mundial na região.

A Fundação de Israel e os Primeiros Contatos com o Irã

Israel foi fundado em 1948, logo após o fim do Mandato Britânico na Palestina, com amplo apoio das Nações Unidas e dos Estados Unidos. A criação do Estado judeu foi imediatamente contestada por muitos países árabes e muçulmanos, que se recusaram a reconhecê-lo e passaram a considerá-lo uma entidade ilegítima no coração do mundo islâmico.

Curiosamente, o Irã — sob o regime do Xá Mohammad Reza Pahlavi, — manteve uma postura mais pragmática durante os primeiros anos do Estado israelense. Apesar de não reconhecer oficialmente Israel por muitos anos, o Irã manteve laços comerciais e estratégicos com Tel Aviv, especialmente na década de 1960 e início dos anos 1970. Havia um interesse mútuo: o Irã buscava um aliado não árabe na região, e Israel via no Irã uma potência estratégica contra o discurso pan-árabe anti-israelense.

A Revolução Islâmica de 1979: A Ruptura Completa

Tudo mudou em 1979, após a Revolução Islâmica. O Xá foi deposto e substituído por um regime teocrático liderado pelo Aiatolá Khomeini. Desde o início, o novo regime iraniano adotou uma postura fortemente anti-israelense. A destruição de Israel tornou-se parte do discurso oficial do novo governo, sendo constantemente repetida por suas lideranças até os dias atuais.

Após a Revolução Islâmica o Irã adotou uma postura anti-israelense


A justificativa religiosa e ideológica do Irã teocrático baseia-se em sua leitura do Islã xiita, combinada com um discurso anti-imperialista. Israel é retratado como uma extensão dos interesses ocidentais, em especial dos Estados Unidos, no Oriente Médio. Para os aiatolás, Israel representa a ocupação da terra sagrada de muçulmanos e é o símbolo máximo da dominação ocidental.

Grupos Proxys e o Conflito Assimétrico

Apesar de não haver confronto militar direto entre os dois países, o Irã tem investido maciçamente no financiamento e armamento de grupos que operam nas fronteiras de Israel. O principal deles é o Hezbollah, um grupo xiita baseado no Líbano, criado com apoio iraniano nos anos 1980. O Hezbollah já travou vários confrontos armados com Israel, especialmente a guerra de 2006, e mais recente conflito que alcançou seu ápice quando a força aérea de Israel eliminou de Hassan Nasrallah, líder da organização.

Outro grupo apoiado pelo Irã é o Hamas, movimento sunita que controla a Faixa de Gaza. Embora existam diferenças sectárias entre xiitas e sunitas, a causa anti-Israel tem sido suficiente para alinhar interesses entre Teerã e o Hamas. O apoio de Teerã inclui dinheiro, armamentos, treinamento e tecnologia de foguetes.

O Programa Nuclear Iraniano

Um dos aspectos mais sensíveis dessa rivalidade é o programa nuclear do Irã. Teerã insiste que seu programa tem fins pacíficos, mas Israel — com o apoio dos EUA e de várias potências ocidentais — acusa o Irã de buscar a capacidade de construir armas nucleares. Para Israel, a possibilidade de um Irã nuclear representa uma ameaça existencial.

Israel tem trabalhado ativamente para impedir esse avanço. Além de pressionar por sanções internacionais e ter se oposto fortemente ao Acordo Nuclear de 2015 (conhecido como JCPOA), Israel é amplamente acusado de realizar sabotagens e ações de eliminação seletiva de cientistas iranianos. Em várias ocasiões, autoridades israelenses afirmaram que impedirão o Irã de obter capacidade nuclear militar "a qualquer custo".

Consequências Geopolíticas

A rivalidade entre Israel e Irã afeta diretamente a estabilidade do Oriente Médio. Ela alimenta conflitos por procuração, intensifica tensões sectárias (entre sunitas e xiitas), fortalece alianças militares e impede o avanço de soluções diplomáticas em países como Síria, Líbano, Iêmen e Iraque.

Israel tem trabalhado diplomaticamente em uma aliança contra o Irã


Do lado israelense, há uma crescente aproximação com países árabes que compartilham o temor ao Irã. O Acordo de Abraão, assinado em 2020, normalizou relações diplomáticas entre Israel e países como Emirados Árabes Unidos e Bahrein, numa aliança tácita contra a influência iraniana.

Já o Irã continua a tentar consolidar seu papel como potência regional, buscando criar uma rede de influência militar e ideológica por meio de seus aliados, visando impedir desestabilizar influencia israelense.

O Futuro: Perspectivas e Incertezas

As perspectivas de paz ou reconciliação entre Irã e Israel são extremamente limitadas. A retórica iraniana sobre a destruição de Israel permanece viva, e o contínuo apoio iraniano a grupos armados deixa pouco espaço para diálogo. Do lado israelense, o medo de um Irã nuclear e a presença militar iraniana em países vizinhos justificam uma política externa agressiva.

Enquanto ambos os lados veem o outro como uma ameaça existencial, a rivalidade tende a continuar. O risco é que, em algum momento, a guerra indireta se transforme em um confronto direto de grandes proporções.

Em última instância, o conflito entre Israel e Irã é mais do que uma disputa territorial ou ideológica — é o símbolo da polarização do Oriente Médio entre blocos antagônicos, representando um dos principais obstáculos à estabilidade regional e à paz duradoura.

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terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Porque a Coreia do Norte apoia a Rússia

A relação entre a Coreia do Norte e a Rússia tem se intensificado recentemente, especialmente no contexto da guerra na Ucrânia. Este apoio mútuo é impulsionado por uma série de fatores estratégicos, econômicos e militares que beneficiam ambas as nações isoladas pela comunidade internacional. 


Apoio Militar da Coreia do Norte à Rússia


A Coreia do Norte tem fornecido apoio militar significativo à Rússia em sua ofensiva na Ucrânia. Este apoio não é apenas simbólico, mas prático, com a Coreia do Norte enviando milhares de soldados para o território russo. Estima-se que entre 8.000 a 12.000 soldados norte-coreanos tenham sido despachados para áreas próximas à fronteira com a Ucrânia, principalmente na região de Kursk. Este movimento foi confirmado por inteligências dos EUA, Coreia do Sul e Ucrânia, embora Moscou e Pyongyang não tenham oficialmente reconhecido esta colaboração.

A Coreia do Norte tem fornecido apoio militar significativo à Rússia



Diferentes motivos justificam essa intervenção norte-coreana em um conflito tão distante do seu território. Primeiramente, há um interesse em ganhar experiência de combate para suas tropas, que tem sido limitada desde o fim da Guerra da Coreia em 1953. A guerra na Ucrânia oferece um campo de treinamento real, onde os soldados podem adquirir conhecimentos práticos em combate moderno. No fronte ucraniano a coreia do norte enfrenta literalmente as estratégias e arsenais utilizados pelos Estados Unidos e aliados. Além disso, o apoio a Moscou pode ser visto como uma forma de desafiar o Ocidente, fortalecendo a posição geopolítica da Coreia do Norte ao lado de outra nação sob sanções internacionais.


Pagamentos e Valores


Os termos dos pagamentos russos pelos soldados norte-coreanos são mantidos em sigilo, mas há especulações sobre o que a Coreia do Norte pode estar ganhando. Relatos sugerem que a Rússia está pagando em dinheiro, tecnologia militar, e possivelmente até em assistência para contornar sanções internacionais. Um deputado sul-coreano teria dito que cada militar do Norte estaria recebendo cerca de 2 mil dólares por mês para auxiliar as tropas russas, valor esse que seria repassado para o governo norte-coreano. Além das tropas, cerca de 4 mil trabalhadores norte-coreanos estariam na Rússia, recebendo um salário médio de 800 dólares mensais. Esses valores financeiro direto não são publicamente conhecidos, mas fruto da especulação e pesquisa dos serviços de informação dos Estados Unidos, Ucrânia e Coreia do Sul, considerando o valor que a Rússia atribuiria a um reforço militar adicional em um conflito prolongado como o da Ucrânia.

A Rússia estaria pagando em dinheiro, tecnologia militar e alimentos

O serviço de informação do sul também acredita que Putin concordou em oferecer entre 600 mil a 700 mil toneladas de arroz à Coreia do Norte como parte do pagamento pela ajuda militar coreana.

Além de pagamentos monetários e em alimentos, a Coreia do Norte estaria interessada em tecnologias avançadas que a Rússia possui, especialmente em áreas ligadas ao arsenal nuclear tático de Pyongyang, sistemas de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), e tecnologias de satélites de espionagem.


Exportações Bélicas Norte-Coreanas


A Coreia do Norte também tem exportado material bélico para a Rússia, incluindo munições de artilharia, foguetes e possivelmente até mísseis. Esses suprimentos são vitais para a Rússia, que tem enfrentado desafios logísticos e de abastecimento devido às sanções internacionais e ao desgaste da guerra. Com sua indústria bélica relativamente preservada pelo isolamento internacional, os norte-coreanos podem fornecer munições de calibres soviéticos ainda usados pela Rússia, ajudando a manter o esforço de guerra. Lembrando que por décadas Moscou foi um dos principais fornecedores militares da parte norte da península coreana.

Este apoio bélico é parte de um acordo mais amplo de cooperação militar entre os dois países, que inclui um pacto de defesa mútua assinado em junho de 2024. Este acordo compromete ambos os países a auxiliar um ao outro em caso de agressão externa, intensificando a aliança estratégica.

Reação da Coreia do Sul

A Coreia do Sul tem reagido com preocupação à crescente aproximação entre a Rússia e a Coreia do Norte. Seul vê essa aliança como uma ameaça à segurança na Península Coreana, temendo que a transferência de tecnologia militar possa fortalecer o arsenal norte-coreano. A Coreia do Sul, historicamente aliada aos EUA e ativa em sua oposição ao regime de Pyongyang, tem considerado reavaliar seu papel no conflito ucraniano. Enquanto antes a Coreia do Sul se limitava a apoio humanitário e financeiro, há discussões sobre a possibilidade de fornecer parte do seu moderno arsenal à Ucrânia como resposta às ações de Pyongyang.

Coreia do Sul está preocupada com a aproximação entre a Rússia e o Norte



O sul-coreanos tem alertado para a potencial escalada das tensões e está avaliando medidas diplomáticas, econômicas e militares para lidar com a situação. Isso inclui o fortalecimento de suas capacidades defensivas e o aumento da cooperação com outras nações democráticas para pressionar diplomaticamente a Rússia e a Coreia do Norte.

Dessa forma entendemos que o apoio da Coreia do Norte à Rússia na Ucrânia é mais que uma simples manobra estratégica, mas uma ação de múltiplas camadas de benefícios para ambos os países. Enquanto a Rússia ganha reforços humanos e materiais, a Coreia do Norte busca experiência militar, tecnologia e uma posição mais forte no cenário geopolítico. No entanto, essa aliança tem gerado uma reação firme dos Estados Unidos e Coreia do Sul, que estão navegando entre a necessidade de segurança regional asiática e as complexidades do conflito no território ucraniano.

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