A conquista e colonização russa do Alasca é um capítulo fascinante da história mundial que combina exploração, comércio, e a competição imperialista entre grandes potências europeias da época. Esta saga começou no final do século XVIII e continuou até meados do século XIX, culminando na venda do Alasca para os Estados Unidos em 1867. A história começa com a busca russa por novos recursos e se entrelaça com a vida dos povos nativos, além de refletir as tensões geopolíticas da época.
Em 1741, a expedição de Vitus Bering e Alexei Chirikov chegou à costa do Alasca |
O Início da Colonização Russa
A era de exploração russa no Alasca teve suas raízes no final do século XVI e início do século XVII, quando os cossacos russos avançaram através da Sibéria em busca de peles e outros recursos. Esses exploradores audaciosos eventualmente alcançaram o extremo leste da Ásia e cruzaram o Estreito de Bering. Em 1741, a expedição de Vitus Bering e Alexei Chirikov, patrocinada pelo governo russo, chegou à costa do Alasca. A expedição estabeleceu a presença russa na região e trouxe de volta notícias de vastas populações de lontras marinhas, cuja pele era extremamente valorizada.
Com essa descoberta, os comerciantes de peles russos, conhecidos como "promyshlenniki", começaram a explorar a costa do Alasca, estabelecendo postos comerciais e interagindo com os povos nativos. Em 1784, Grigory Shelikhov, um dos principais comerciantes de peles, fundou o primeiro assentamento permanente russo na Ilha Kodiak. Este assentamento, Three Saints Bay, marcou o início oficial da colonização russa no Alasca. A Companhia Russo-Americana foi criada em 1799, recebendo um monopólio sobre o comércio de peles e outras atividades econômicas na região.
O Auge do Domínio Russo
A colonização russa no Alasca não foi uma tarefa simples. Os russos enfrentaram um ambiente hostil, dificuldades de abastecimento e resistência dos povos nativos, como os Tlingit. Em 1804, a Batalha de Sitka foi um confronto significativo entre os russos e os Tlingit. Após uma vitória difícil, os russos estabeleceram Novo-Archangelsk (atual Sitka) como a capital de suas possessões no Alasca. Novo-Archangelsk tornou-se o principal centro administrativo e comercial da colônia, atraindo comerciantes, caçadores e missionários.
A Companhia Russo-Americana desempenhou um papel central na colonização do Alasca. A empresa não apenas administrava o comércio de peles, mas também promovia a colonização, incentivando a imigração russa e estabelecendo escolas e igrejas ortodoxas para converter os nativos ao cristianismo. A administração colonial russa tentou criar uma sociedade autossuficiente, mas enfrentou muitos desafios, incluindo dificuldades econômicas e logísticas.
Símbolo da Companhia Russo-Americana, responsável pela administração |
O comércio de peles foi a espinha dorsal da economia colonial russa no Alasca. As peles de lontra marinha eram especialmente valiosas e eram exportadas para a China, onde podiam ser trocadas por seda, chá e outros produtos de luxo. No entanto, a superexploração levou ao declínio das populações de lontras marinhas, o que afetou a economia da colônia. Além disso, a vasta distância entre o Alasca e a o centro de poder da Rússia Imperial dificultava a administração eficiente e o abastecimento adequado da colônia.
Nos meados do século XIX, a Rússia começou a reconsiderar a viabilidade de manter suas possessões na sua colônia americana. A Crimeia foi devastada pela Guerra da Crimeia (1853-1856), o que colocou um enorme fardo financeiro sobre o império russo. Além disso, a presença russa no Alasca estava ameaçada pela expansão britânica e americana na região. As autoridades russas decidiram que a venda do Alasca seria uma solução prática para os seus problemas econômicos e estratégicos.
A Venda do Território
Em 1867, após negociações entre o ministro russo nos Estados Unidos, Eduard de Stoeckl, e o secretário de Estado americano, William H. Seward, o Tratado de Cessão do Alasca foi assinado. Os Estados Unidos compraram o Alasca por 7,2 milhões de dólares, uma quantia considerada insignificante em retrospectiva. A transferência formal ocorreu em 18 de outubro de 1867, quando a bandeira russa foi baixada e a bandeira americana foi erguida em Sitka.
Assinatura do Tratado de Cessão do Alasca |
Interessante é que a venda do Alasca foi recebida com ceticismo e críticas tanto na Rússia quanto nos Estados Unidos. Muitos americanos inicialmente consideraram a compra como um desperdício de dinheiro, referindo-se a ela como "a loucura de Seward" ou "a geladeira de Seward". No entanto, a aquisição do Alasca se revelou uma decisão estratégica importante, especialmente após a descoberta de ouro no final do século XIX, que desencadeou a Corrida do Ouro de Klondike e atraiu milhares de colonos para a região.
Os Estados Unidos compraram o Alasca por 7,2 milhões de dólares |
Para a Rússia, a venda do Alasca marcou o fim de um capítulo na sua história colonial e imperial. O foco do império mudou para a expansão e desenvolvimento dentro da própria Rússia e na Ásia Central. Embora a colonização russa do Alasca tenha durado apenas pouco mais de um século, ela deixou um legado duradouro na cultura e na história da região. As influências russas ainda são visíveis no Alasca hoje, em locais históricos, nomes de lugares e na presença contínua da Igreja Ortodoxa Russa.
A história da conquista e colonização russa do Alasca é um dos exemplos da exploração, comércio e competição imperialista predominante no pensamento da época, revelando as complexidades das interações entre colonizadores e povos nativos, bem como as consequências de longo prazo das decisões políticas e econômicas. A venda do Alasca para os Estados Unidos foi um ponto de mudança que moldou o futuro da região de forma significativa e refletiu a mudança do eixo de poder para os Estados Unidos, ainda que inconscientemente.
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