terça-feira, 31 de outubro de 2023

506 Anos da Reforma Protestante

    A reforma protestante foi um movimento religioso que ocorreu na Europa no século XVI e que provocou uma ruptura na unidade do cristianismo ocidental. O principal iniciador da reforma foi Martinho Lutero, um monge e teólogo alemão que criticou algumas práticas e doutrinas da Igreja Católica, especialmente a venda de indulgências, que eram perdões concedidos pela Igreja em troca de dinheiro ou obras.

Lutero expressou suas críticas em um documento chamado as 95 teses


    Lutero expressou suas críticas em um documento chamado as 95 teses, que ele pregou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, em 31 de outubro de 1517. Essa data é considerada o marco inicial da reforma protestante e é celebrada pelos luteranos e por outras denominações protestantes como o Dia da Reforma. Lutero não pretendia criar uma nova igreja, mas sim reformar a existente. No entanto, ele foi condenado como herege pelo Papa Leão X e pelo Imperador Carlos V, que tentaram reprimir o movimento reformista sem sucesso.

O Papa Leão X condenou Lutero por heresia


    A reforma protestante se espalhou por vários países da Europa, dando origem a diferentes tradições protestantes, como os calvinistas, os anabatistas, os anglicanos, os presbiterianos, os batistas, os metodistas, os pentecostais, entre outras. Cada uma dessas tradições tinha suas próprias características e interpretações da Bíblia, mas todas compartilhavam alguns princípios comuns, como:

— A Bíblia é a única fonte de autoridade religiosa e deve ser lida e interpretada livremente pelos fiéis.
— A salvação é pela fé somente, não pelas obras ou pela mediação da Igreja ou dos santos.
— O sacerdócio universal dos crentes, que significa que todos os cristãos têm acesso direto a Deus e podem exercer seu ministério.
— A importância da pregação e da educação para difundir o evangelho e formar os cristãos.
— A liberdade religiosa e a separação entre a Igreja e o Estado.


    A reforma teve grandes consequências para a história da Europa e do mundo. Ela provocou conflitos religiosos e políticos entre católicos e protestantes, como as guerras religiosas na França, na Alemanha e nos Países Baixos. Ela também estimulou o desenvolvimento cultural, científico e econômico de alguns países protestantes, como a Inglaterra, a Holanda e a Escócia. Ela influenciou a formação de novas identidades nacionais e regionais na Europa. Mas contribuiu para a expansão do cristianismo pelo mundo através das missões protestantes, gerando novos movimentos religiosos dentro e fora do protestantismo.

Soli Deo gloria é o princípio protestante segundo o qual toda a glória da
Salvação é devida a Deus


    Atualmente, estima-se que há aproximadamente cerca de 593 milhões de protestantes no mundo, o que representa uma parcela significativa dos quase 2,2 bilhões de cristãos. Os países com maior número de protestantes são os Estados Unidos, a Nigéria, a China, o Brasil e o Reino Unido. Os países com maior percentual de protestantes são Tuvalu, Islândia, Finlândia, Nauru e Noruega.Soli Deo gloria é o princípio protestante segundo o qual toda a glória é devida a Deus




domingo, 29 de outubro de 2023

Israel Suspende Emissão de Vistos para Funcionários da ONU

    Israel entrou em conflito com a ONU (Organização das Nações Unidas) após o secretário-geral da entidade, António Guterres, fazer um discurso no Conselho de Segurança sobre a situação na Faixa de Gaza. Guterres denunciou "violações claras" do direito humanitário cometidas por ambos os lados durante os ataques do grupo terrorista Hamas e a resposta militar de Israel em maio de 2023. Ele também afirmou que os ataques do Hamas "não aconteceram em um vácuo" e que o povo palestino estava sofrendo com a ocupação israelense há 56 anos.

Fala de Guterres criticando Israel sem acusar o Hamas irritou a diplomacia
israelense


    A fala de Guterres irritou a diplomacia israelense, que acusou o secretário-geral de se solidarizar com o Hamas e de ignorar as vítimas israelenses dos foguetes lançados pelo grupo extremista. O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, pediu a demissão imediata de Guterres e disse que ele estava "completamente desligado da realidade" e que não fazia sentido conversar com quem "demonstra compaixão pelas mais terríveis atrocidades cometidas contra os cidadãos de Israel e o povo judeu". O ministro de Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, cancelou uma reunião que teria com Guterres e afirmou que "não há espaço para uma abordagem equilibrada" e que "o Hamas deve ser apagado do mundo".

Israel decidiu suspender a emissão de vistos para funcionários da ONU


    Como forma de retaliação, Israel decidiu suspender a emissão de vistos para funcionários da ONU que atuam no país, dificultando o trabalho humanitário e diplomático da organização. Um dos afetados foi o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, que teve seu visto negado por Israel. A medida foi criticada por vários países e organizações que defendem os direitos humanos e a solução pacífica do conflito entre israelenses e palestinos.

    Guterres, por sua vez, tentou esclarecer suas declarações e disse que houve "distorções" na interpretação das suas palavras. Ele reiterou que condenava os ataques do Hamas e que defendia o direito de Israel à autodefesa, mas que também reconhecia o sofrimento do povo palestino sob a ocupação israelense². Ele pediu o fim da violência e o retorno às negociações para uma solução de dois Estados, baseada nas resoluções da ONU e no direito internacional.

    O impasse entre Israel e a ONU reflete a complexidade e a gravidade do conflito no Oriente Médio, que envolve questões históricas, religiosas, políticas e territoriais. A falta de diálogo e de confiança entre as partes dificulta a busca por uma paz duradoura e justa na região.


 Começo da Crise

    Os ataques do Hamas ao território israelense em outubro de 2023 foram uma das maiores escaladas de violência na região nos últimos anos. O grupo extremista islâmico armado, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, lançou uma ofensiva surpresa contra Israel, disparando mais de 7.000 mísseis em direção a várias cidades e alvos militares. O ataque, que o Hamas chamou de Dilúvio de Al-Aqsa, matou mais de 1.400 civis e soldados israelenses e capturou mais de 200 reféns.

Gaza é controlada pelo Hamas desde 2007


    Israel reagiu com uma campanha militar intensa, bombardeando a Faixa de Gaza com o objetivo declarado de destruir completamente o Hamas e resgatar os reféns. Além disso, Israel impôs um bloqueio total ao território, impedindo a entrada de ajuda humanitária e provocando uma grave crise humanitária.

    O conflito gerou uma forte repercussão internacional, com vários países e organizações condenando a violência e pedindo um cessar-fogo imediato. A ONU, a União Europeia, os Estados Unidos, a Rússia, a China e outros atores diplomáticos tentaram mediar uma solução pacífica, mas sem sucesso. O Hamas recusou qualquer negociação com Israel, exigindo o fim do bloqueio e o reconhecimento dos direitos dos palestinos. Israel, por sua vez, exigiu a libertação dos reféns e o desarmamento total do Hamas.

Israel reagiu ao ataque terrorista do Hamas com uma campanha militar intensa


    O contexto do conflito é complexo e envolve questões históricas, políticas, religiosas e territoriais. A região é palco de disputas entre israelenses e palestinos há décadas, desde a criação do Estado de Israel em 1948. O Hamas é um dos principais representantes da resistência palestina contra a ocupação israelense, mas também é considerado uma organização terrorista por muitos países. O grupo se opõe à existência de Israel e defende a criação de um Estado islâmico na Palestina.



 

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

O que se sabe sobre a explosão no Hospital Al Ahli

    A situação do hospital da Faixa de Gaza é uma das mais dramáticas consequências do conflito entre Israel e o grupo islâmico Hamas, que controla o território palestino desde 2007. O hospital árabe Al Ahli, um dos maiores e mais antigos da região, foi alvo de um suposto ataque aéreo israelense no dia 17 de outubro de 2023, que deixou centenas de mortos e feridos, além de causar grandes danos à infraestrutura e aos equipamentos médicos. Entretanto, pouco tempo após o incidente, o governo israelense foi incisivo em negar o ataque, apresentando videos que comprovariam que a explosão teria sido causada por uma falha de um míssil lançado pela Jihad Islamica. 

     Segundo o Ministério da Saúde de Gaza (controlado pelo Hamas), cerca de 500 pessoas morreram na explosão, que ocorreu por volta das 14h (horário local). Entre as vítimas, haviam pacientes, médicos, enfermeiros e funcionários do hospital, além de pessoas que buscavam refúgio no local. Muitos corpos ficaram irreconhecíveis ou mutilados pelos estilhaços. Outras centenas de pessoas ficaram feridas, algumas em estado grave, e foram levadas às pressas para outros hospitais da região.

Hospital Al Ahli
 

    Em um primeiro momento, o mundo foi tomado por uma histeria coletiva similar a do incidente de um "suposto ataque russo a Polônia", em 15 de novembro de 2022. Na época com diversas meios de comunicação foram rápidos em acusar o governo russo pelo ataque (o que na prática levaria o mundo a um conflito sem precedentes). Posteriormente o caso foi anunciado como "um acidente causado por um míssil ucraniano" pela própria OTAN e o caso foi encerrado. Algo similar aconteceu nesse evento, com diversos meios de comunicação da Eruopa até a Asia sendo quase unânimes em anunciar a morte de 500 civis e ao ataque aéreo israelense. Entretanto na manhã seguinte, as imagens deixaram claro que os danos a estrutura do hospital não haviam sido tão significativos quanto se pensava anteriormente. Além disso as imagens do local da explosão apresentaram um cenário similar aos deixados pelos ataques com misseis realizados pelo Hamas em território Israelense. 

    Outra controvérsia esta diretamente ligada ao número de vítimas. Conforme uma reportagem do jornal Metropoles, um relatório da inteligência dos Estados Unidos estima entre 100 e 300 mortos na explosão do Hospital al-Ahli Arab, na Faixa de Gaza, na terça-feira (17/10), enquanto um serviço de informação da Europa, que pediu anonimato, falou a agências de notícias ter contabilizado “provavelmente entre 10 e 50” vítimas fatais pelo ataque. Inicialmente, o Ministério da Saúde de Gaza reportou até 500 mortes causadas pelo bombardeio.


Estragos causados pela explosão

    O ataque ao hospital foi classificado pelas autoridades palestinas como um "crime de guerra" e uma violação das leis humanitárias internacionais, que protegem os estabelecimentos de saúde em zonas de conflito. O Hamas acusou Israel de ter como alvo deliberado o hospital, que atendia centenas de doentes e feridos, e pessoas deslocadas à força de suas casas por causa dos bombardeios israelenses. O grupo islâmico prometeu vingança e disse que intensificaria os ataques com foguetes contra o território israelense. Entretanto isso levanta outro questionamento: o que Israel ganharia atacando um hospital durante a visita do Presidente dos Estados Unidos ao seu território?

Estragos causados pela explosão
 

    Apesar das informações controversas, se os números do  ataque ao hospital apontado pelo Ministério da Saúde de Gaza for confirmado. Esse terá sido o ataque ou acidente mais mortal das cinco guerras travadas entre Israel e o Hamas desde 2008


 

    É importante ressaltar, que mesmo que as causas dessa tragédia e o número de vítimas não sejam tão elevados quanto anunciado inicialmente, a situação em Gaza já pode ser considerada catastrófica. Segundo fontes dentro e fora do território,os hospitais estão sobrecarregados, o número de feridos é extremamente alto e há um fluxo constante em todos os hospitais da Faixa de Gaza. As equipes médicas estão exaustas, trabalhando sem parar para tratar os feridos. Faltam medicamentos, materiais cirúrgicos, sangue e oxigênio. A energia elétrica é escassa e intermitente. A água potável é rara e contaminada. O lixo se acumula nas ruas. As doenças se espalham rapidamente.

Estragos causados pela explosão na área próxima ao Hospital
 

    A comunidade internacional tem feito apelos para um cessar-fogo imediato e incondicional entre as partes envolvidas no conflito. Várias organizações humanitárias têm tentado enviar ajuda emergencial para Gaza, mas enfrentam dificuldades para entrar no território por causa do bloqueio imposto por Israel e Egito. A ONU alertou que a situação em Gaza é insustentável e que pode levar a uma crise humanitária sem precedentes na região.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

O Fim da Guerra de Nagorno-Karabakh

 A Guerra de Nagorno-Karabakh foi um conflito armado entre a Armênia e o Azerbaijão pela posse do enclave de Nagorno-Karabakh, uma região montanhosa de maioria armênia dentro do território azerbaijano. O conflito teve origem na época soviética, quando a região foi designada como uma república autônoma dentro do Azerbaijão, mas os armênios locais reivindicaram a sua anexação à Armênia. Após o colapso da União Soviética, em 1991, os armênios de Nagorno-Karabakh declararam a sua independência como República de Artsakh, não reconhecida internacionalmente, e travaram uma guerra contra as forças azerbaijanas até 1994, quando um cessar-fogo foi mediado pela Rússia. A guerra deixou cerca de 30 mil mortos e centenas de milhares de deslocados, e resultou no controle armênio de Nagorno-Karabakh e de sete distritos adjacentes do Azerbaijão.

A região foi designada como uma república autônoma dentro do Azerbaijão


    Apesar de várias tentativas de negociação sob os auspícios do Grupo de Minsk, copresidido pela França, Rússia e Estados Unidos, o conflito permaneceu congelado por mais de duas décadas, com ocasionais surtos de violência na linha de contato. Em 2020, uma nova escalada da tensão levou a uma guerra aberta entre a Armênia e o Azerbaijão, que durou seis semanas e terminou com uma derrota esmagadora para a Armênia. O Azerbaijão lançou uma ofensiva militar em 27 de setembro de 2020, apoiado pela Turquia e por mercenários sírios, e conseguiu recuperar o controle de grande parte dos territórios perdidos em 1994, incluindo a cidade estratégica de Shusha. A guerra causou mais de 6.500 mortes, entre civis e militares, e provocou uma nova onda de refugiados, principalmente armênios que fugiram das áreas reconquistadas pelo Azerbaijão.

Em 2023 Azerbaijão reconquistou o controle total sobre a região


    O fim da guerra foi selado por um acordo de cessar-fogo assinado em 10 de novembro de 2020 pelos líderes da Armênia, do Azerbaijão e da Rússia. O acordo previa a cessação das hostilidades, a manutenção do status quo nas áreas sob controle armênio ou azerbaijano, a retirada das forças armênias dos distritos restantes do Azerbaijão até 1º de dezembro de 2020, a abertura de corredores de transporte entre as partes envolvidas e o destacamento de cerca de 2 mil soldados russos como força de paz em Nagorno-Karabakh por um período inicial de cinco anos. O acordo também determinava que a República de Artsakh deixaria de existir a partir de 1º de janeiro de 2024, e que os residentes armênios do enclave deveriam decidir se ficariam sob a soberania do Azerbaijão ou se partiriam para a Armênia.

A Armênia foi a principal prejudicada pelo conflito


    O acordo foi recebido com protestos e indignação na Armênia, onde muitos o consideraram uma traição e uma rendição humilhante. O primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan enfrentou pedidos de renúncia e tentativas de golpe por parte da oposição. Por outro lado, o acordo foi celebrado como uma vitória histórica no Azerbaijão, onde o presidente Ilham Aliyev foi aclamado como um herói nacional. A Turquia também comemorou o resultado da guerra como um triunfo da sua política externa assertiva e da sua aliança estratégica com o Azerbaijão. A Rússia, por sua vez, consolidou o seu papel como mediador e protetor no Cáucaso Sul, ao mesmo tempo em que limitou a influência da Turquia na região.

O fim da guerra em Nagorno-Karabakh marcou uma mudança radical no equilíbrio de poder no Cáucaso Sul, mas também deixou muitas questões em aberto sobre o futuro da região. Ainda não está claro se o acordo será respeitado pelas partes envolvidas, se haverá uma solução política duradoura para o conflito, se os refugiados poderão retornar às suas casas com segurança e se as feridas históricas entre armênios e azerbaijanos poderão ser curadas. O destino de Nagorno-Karabakh permanece incerto e depende da vontade e da capacidade dos atores locais e regionais de construir a paz após décadas de guerra.

O significado do fim da presença armênia em Nagorno-Karabakh para a comunidade armênia é de luto, revolta e esperança. Os armênios, que já sofreram um genocídio no século XX pelas mãos dos turcos, sentem-se traídos e abandonados pelo mundo, que não impediu a agressão do Azerbaijão. Os armênios também se sentem orgulhosos da sua resistência e da sua , que os mantiveram unidos diante das adversidades. Os armênios também se solidarizam com os outros povos que sofrem opressão e violência, e defendem a paz e a justiça para todos. O fim da presença armênia em Nagorno-Karabakh é um desafio para a comunidade armênia, mas também uma oportunidade para fortalecer sua identidade e sua voz.