quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A tensa situação da Embaixada Francesa no Níger

    No dia 30 de julho ocorreu um ataque de manifestantes a embaixada da França em Niamey, capital do Níger. Desde então a situação que já era tensa ficou ainda mais complicada, principalmente após os militares que assumiram o controle do país proibirem a exportação de urânio para a França.

    A relação entre França e Níger foram fortemente abaladas, reflexo do golpe de Estado ocorrido no país africano em 26 de julho de 2023. A liderança do golpe ficou nas mãos do general Abdourahamane Tiani, chefe da guarda presidencial, que destituiu o presidente eleito, Mohamed Bazoum, autoproclamando-se como novo líder do Níger. Alegando que o golpe era imperativo para restaurar a ordem e a segurança do país, uma vez que o país enfrenta incessantes ataques de grupos jihadistas (uma crise que afeta um parcela significativa dos países da região), o general assumiu o comando do novo governo.

Manifestantes pró-governo realizaram manifestações no país

    Como a antiga potência colonial do Níger, a França mantém aproximadamente 1.500 soldados no país como parte de uma operação de combate ao terrorismo no Sahel. A posição francesa diante do novo governo e do cenário de instabilidade, foi condenar veementemente o golpe, ordenando o imediato retorno da ordem constitucional, bem como a libertação do presidente Bazoum, atualmente detido junto com sua família. Como demonstração de sua posição firme, a França interrompeu sua colaboração em termos de segurança e assistência financeira ao desenvolvimento do Níger, uma ação também compartilhada pela União Europeia.

    Em resposta a essas medidas, a junta militar que assumiu o controle no Níger ordenou a expulsão do embaixador francês no país, Sylvain Itté, concedendo-lhe um prazo de 48 horas para deixar o território. A junta alegou que o embaixador se recusou a se reunir com as novas lideranças e agiu contrariamente aos interesses do Níger. Tradicionalmente o embaixador de um país expulso é retirado do país, buscando evitar o aumento da tensão diplomática, entretanto o governo francês, alegando que não reconhece o novo governo decidiu que manterá sua delegação diplomática e o embaixador.

    Segundo informações, a embaixada está cercada por forças leias ao novo governo e a agua e a luz das instalações teriam sido cortadas.

    Em meio a essa situação delicada, o presidente francês, Emmanuel Macron, reafirmou que está disposto a apoiar a delegação africana contrária ao golpe. Macron deixou claro que qualquer forma de ataque contra a França e seus interesses não seria tolerada, destacando que responderia prontamente a quaisquer agressões direcionadas a cidadãos, forças armadas, diplomatas ou bases francesas. O líder francês reiterou seu não reconhecimento aos militares e expressou seu apoio contínuo ao presidente deposto.

    É importante ressaltar que os interesses franceses no Níger vão além da produção de urânio do país, existe um temor do crescimento influência russa em uma região tradicionalmente influenciada pelos franceses, além do risco real de que as democracias cambaleantes da região possam ser diretamente afetada por esses golpes.

General Abdourahamane Tiani — Autoploclamado presidente do Níger
 

    Essa crise no Níger é o estopim de uma série de tensões que tem colocado as nações do Sahel novamente no centro das disputas geopolíticas globais, onde múltiplos países enfrentam o desafio de grupos extremistas e golpes.

    Mas um desafio para os governos e povos da região. 


terça-feira, 22 de agosto de 2023

Guantanamo: Uma Questão Histórica Polêmica

Localizada nas águas da baía de mesmo nome, na ilha de Cuba, a Base Militar de Guantanamo é um ponto de interesse geopolítico que remonta ao ano de 1903. Na esteira da guerra Hispano-Americana, um acordo entre Estados Unidos e Cuba concedeu aos americanos o direito de arrendar essa porção de território indefinidamente. No entanto, desde a revolução cubana de 1959, a presença americana na região é alvo de disputas acirradas.

 Base Naval da Baía de Guantánamo foi alugada em 1903 aos Estados Unidos da América
por um acordo entre os dois países

 

Uma das polêmicas mais marcantes associadas a essa base é o Campo de Detenção da Baía de Guantanamo. Estabelecido em 2002 após os ataques de 11 de setembro, esse centro tem abrigado prisioneiros suspeitos de terrorismo, capturados principalmente no Afeganistão e em outros países. A controvérsia se acirra pelas condições adversas enfrentadas pelos detentos e pelas alegações de técnicas de interrogatório agressivas, que em muitos casos beiram a tortura. Organizações de direitos humanos têm levantado denúncias consistentes de violações das convenções internacionais e das próprias leis americanas.

Campo Delta — Oficialmente parte do Campo de Detenção da Baía de Guantánamo


O que transforma Guantanamo em um desafio ético e legal é a tensão entre os argumentos de Estados Unidos e Cuba. De um lado, os EUA afirmam que a base é um pilar da segurança nacional e um instrumento contra o terrorismo global. Por outro, Cuba e outras nações consideram a presença americana como um sinal de imperialismo e um atentado aos direitos fundamentais. A controvérsia encontra suas raízes em aspectos históricos, políticos e morais, demandando uma avaliação minuciosa e uma busca por resoluções pacíficas.

Status Jurídico


O status jurídico de Guantanamo é uma trama intrincada, entrelaçando direito internacional e relações bilaterais. A Base Militar de Guantanamo está situada em território arrendado desde 1903, com os EUA pagando anualmente uma quantia simbólica a Cuba. No entanto, o governo cubano rejeita a validade desse acordo, o qual considera imposto em condições de pressão pós-guerra e vê a presença americana como uma ocupação ilícita.

Chegada dos primeiros militares americanos em 1903


Para além das fronteiras territoriais, emerge a preocupação com os direitos humanos dos detentos na prisão de Guantanamo, muitos dos quais enfrentam detenção prolongada sem acusação formal ou julgamento justo. Estes indivíduos são categorizados como "combatentes inimigos", excluídos da proteção das convenções de Genebra e sujeitos a métodos de interrogatório que desafiam as normas internacionais contra a tortura.

O único McDonald's de Cuba está localizado no território administrado pelo americanos.


O cenário em Guantanamo coloca à prova não apenas a legalidade, mas também os princípios democráticos. Enquanto os EUA sustentam a base em nome da segurança, Cuba e outras vozes internacionais clamam pelo encerramento dessa instalação e pela devolução do território. Este debate vai muito além das cortes e dos tratados, atravessando o tecido político e ético da relação entre essas duas nações separas pelo mar apenas por alguns quilômetros.


Aluguel Polêmico


A relação entre Estados Unidos e Cuba é marcada por uma peculiaridade, que ecoa na Base Militar de Guantanamo. Conforme estabelecido no acordo de 1903, os EUA pagam uma quantia anual de aluguel à Cuba pela base. Entretanto, desde a revolução cubana, o governo cubano rejeita esse montante, considerando-o ilegal. O fundo gerado por esse aluguel permanece intocado, um testemunho silencioso das tensões entre esses dois países.

Cheque do Aluguel da Baía de Guantanamo


Os EUA, por sua vez, mantêm a validade do acordo e sustentam que qualquer modificação requer o consenso bilateral. Além disso, argumentam que a presença americana em Guantanamo é um imperativo para sua segurança e para combater o terrorismo global. O estatuto da base mantém-se como um empecilho significativo na normalização das relações entre essas nações, uma trajetória que se iniciou timidamente em 2014. 

Apesar dos inúmeros protestos cubanos, o governo americano não abre mão do
seu direito sobre o território.



Nesse contexto, a controvérsia em torno do aluguel pago pelos EUA pela Base Militar de Guantanamo transcende os termos de um contrato. Ela ecoa uma complexa trama histórica, política e legal que espelha as tensões profundas e os desafios pendentes nessa relação de vizinhança.


 Saiba mais no nosso vídeo sobre o tema:


 

 

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Futebol e Política: Conheça um pouco mais sobre o Al-Hilal

    A contratação surpreendente de Neymar pelo Al-Hilal em 2023 gerou considerável repercussão no cenário do futebol. Com 31 anos, o atacante brasileiro deixou o Paris Saint-Germain (PSG) para firmar um contrato de dois anos com o clube saudita, mediante um pagamento de 100 milhões de euros (R$ 540 milhões) ao time francês. Além disso, Neymar receberá um vultuoso salário de 320 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão) no total, embora não inclua bônus vinculados a desempenho em campo ou atividades nas redes sociais.

A Contratação do jogador Neymar pelo Al-Hilal repercurtiu mundialmente


    O impacto da transferência meche tanto no futebol saudita quanto no panorama global do esporte. Para o Al-Hilal de Riade, amplamente considerado o clube mais eminente e bem-sucedido da nação e da Ásia, a chegada de Neymar é na prática um movimento geopolítico, em um cenário em que a Arábia Saudita busca promover o futebol do país e a imagem nacional no cenário mundial.

    O Al-Hilal já havia assegurado outros jogadores de renome, incluindo Kalidou Koulibaly, Rúben Neves, Sergej Milinković-Savić e Malcom, sob a orientação do técnico Jorge Jesus. Com a incorporação de Neymar, a equipe ambiciona conquistar mais títulos em âmbito nacional, continental e até mesmo mundial, além de atrair um acréscimo de torcedores, patrocínios e atenção da mídia global.

    Localizado em Riade, Arábia Saudita, o
Al-Hilal foi fundado pelo sheik Abdulrahman Bin Saeed em 16 de outubro de 1957. O nome do clube, "Al-Hilal," traduz-se como "Lua Crescente," uma alusão ao símbolo nacional da Arábia Saudita. O clube é considerado o clube mais popular e vitorioso do país e da Ásia, tendo conquistado 66 títulos oficiais em competições tanto nacionais quanto internacionais.

 

Al-Hilal foi fundado pelo sheik Abdulrahman Bin Saeed
em 16 de outubro de 1957


    A participação do Al-Hilal ocorreu em todas as edições do Campeonato Saudita de Futebol desde sua criação em 1976, sendo o recordista de títulos com 18 conquistas. Adicionalmente, detém o recorde de títulos da Copa da Coroa do Príncipe (13), da Copa da Federação (7) e da Copa do Rei (10). Acrescido a isso, o clube venceu três vezes a Supercopa e uma vez a Saudi Funder's Cup, um torneio que ocorre a cada centenário.

    Internacionalmente, o Al-Hilal alcançou grande destaque na Liga dos Campeões da AFC, sendo o clube mais bem-sucedido com quatro títulos (1991, 2000, 2019 e 2021), além de quatro vice-campeonatos (1986, 1987, 2014 e 2017). O clube também ostenta títulos da Recopa Asiática em 1997 e 2002, bem como da Supercopa da Ásia em 1997 e 2000. Reconhecendo sua excelência, a IFFHS elegeu o Al-Hilal como o melhor clube asiático do século XX em 2009. Nas participações na Copa do Mundo de Clubes da FIFA, o clube alcançou seu melhor resultado ao garantir o quarto lugar em 2019.

    A história do Al-Hilal é repleta de jogadores renomados, muitos deles brasileiros. Um dos primeiros a marcar presença foi Rivellino, que ingressou no clube em 1979 aos 33 anos, pouco após o estabelecimento do campeonato profissional saudita. Este notável jogador é considerado o maior na história do Al-Hilal, sendo reverenciado pela torcida até hoje. Diversos outros brasileiros também deixaram sua marca no clube, incluindo Carlos Eduardo, Thiago Neves, Aílton, Giovanne Élber, Rogerinho e Leonardo. Surpreendendo o mundo em 2023, o Al-Hilal contratou o astro Neymar Jr., tornando-o o jogador mais bem remunerado do planeta.

    No mesmo ano, 2023, o clube vivenciou uma transformação em sua estrutura societária. O Public Investment Fund (PIF), o Fundo Soberano Saudita, adquiriu 75% das ações do clube, assumindo o controle diretorial. O PIF investiu substancialmente na contratação de jogadores de elite, incluindo Kalidou Koulibaly, Rúben Neves e Sergej Milinković-Savić, além de Neymar. A meta do fundo é elevar o Al-Hilal ao status de um dos principais clubes globais, capaz de rivalizar com os gigantes europeus.

O Fundo Soberano Saudita (PIF)

    O fundo soberano saudita representa uma reserva financeira do governo da Arábia Saudita voltada para investimentos estratégicos, tanto no país como no exterior. Denominado Public Investment Fund (PIF), foi estabelecido em 1971 com o propósito de viabilizar projetos de crescimento econômico e progresso social no território saudita.

O Patrimônio do PIF estava avaliado em
US$ 430 bilhões em 2021


    O PIF figura entre os maiores fundos soberanos globais, ostentando um patrimônio estimado em cerca de US$ 430 bilhões em 2021. Sua principal fonte de recursos provém dos lucros oriundos da exploração e exportação de petróleo, correspondendo a cerca de 80% das receitas governamentais sauditas. O fundo também recebe aporte de verbas provenientes de privatizações, dividendos, empréstimos e outras fontes.

    Sua missão primordial é a de se firmar como um investidor líder em escala global, concentrando-se em investimentos de longo prazo e eficazes que contribuam para a diversificação da economia saudita e para o fomento de emprego e renda na população. Nesse sentido, o PIF se destaca como um dos principais motores por trás da Visão 2030, um ambicioso programa de transformação econômica apresentado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman em 2016, visando à redução da dependência do petróleo e à modernização do país.

    O escopo de atuação do PIF abarca diversos setores e mercados tanto internos quanto internacionais. Tais setores prioritários englobam energia, mineração, infraestrutura, transporte, telecomunicações, tecnologia, saúde, educação, turismo, entretenimento e esporte. Com relação a mercados estrangeiros, o PIF mantém investimentos nos Estados Unidos, Japão, França, África do Sul, Rússia, China, Índia e Brasil.

    Os investimentos de destaque realizados pelo PIF englobam a aquisição de 5% das ações da Uber em 2016 por US$ 3,5 bilhões; a obtenção de uma fatia de 45% na empresa de energia solar SoftBank Vision Fund em 2017 por US$ 45 bilhões; o anúncio de um ambicioso projeto de US$ 500 bilhões para a criação da cidade inteligente Neom no noroeste da Arábia Saudita em 2017; a aquisição de 25% das ações do clube de futebol Newcastle United em 2020 por US$ 400 milhões; e o anúncio de um investimento potencial de até US$ 10 bilhões no Brasil em 2019.

    Fica evidente que o fundo soberano saudita assume ares de ferramenta robusta para o governo saudita concretizar seus desígnios de desenvolvimento e influência à escala mundial.
E sim, a contratação de "superatletas", faz parte dessa política de investimentos e promoção da imagem do governo saudita.

A Contratação de Neymar

    No contexto do futebol saudita, a contratação de Neymar tenta projetar dimensão econômica e política do país para dentro dos gramados, o Estado Saudita direciona substanciais investimentos no esporte como parte de sua estratégia de modernização e diversificação. O Public Investment Fund (PIF), entidade soberana saudita, detém 75% do controle acionário do Al-Hilal e tem como aspiração transformar o clube em um dos líderes globais. Não se pode ignorar que a transferência de Neymar para a Arábia Saudita amplia a visibilidade e a competitividade da Liga Saudita, provocando um aumento na audiência e no interesse do mercado internacional. Um exemplo é a compra dos direitos de transmissão da competição pela Band no Brasil.

    Em perspectiva mundial, a contratação de Neymar pelo Al-Hilal evidencia que os clubes não situados na Europa podem emergir como protagonistas na batalha pela contratação dos melhores jogadores do mundo. Essa transferência representa a mais significativa já realizada por uma equipe fora do continente europeu na história, superando inclusive a ida de Cristiano Ronaldo para o Al-Nassr em 2022. Esse movimento pode influenciar futuras negociações e gerar um novo tipo de concorrência nas ligas e nos contratos de patrocínio europeus. Ademais, tal fato pode impactar o desempenho dos jogadores em suas seleções e clubes, visto que precisarão adaptar-se a uma realidade cultural e esportiva inovadora.

    Do ponto de vista de Neymar, a escolha de ingressar no Al-Hilal carrega consigo controvérsias e pode render vantagens e desvantagens para sua carreira. Por um lado, proporciona uma significativa soma em termos financeiros e a oportunidade de liderar um projeto ambicioso. Por outro lado, afasta-o dos holofotes do futebol europeu e pode diminuir suas chances na disputa pela Bola de Ouro e pelo título de melhor jogador do mundo. Conforme o jornal L'Equipe, Neymar planeja retornar à Europa após o término de seu contrato com o Al-Hilal em 2025, quando terá 33 anos. Sua meta também engloba a participação na Copa do Mundo de 2026.

    A contratação de Neymar pelo Al-Hilal inscreve-se como um dos episódios mais marcantes da história recente futebol. Essa transferência não apenas envolve quantias substanciais, mas também interesses de natureza política e esportiva, reverberando em múltiplos âmbitos. O decorrer do tempo revelará se tal decisão foi benéfica tanto para o jogador quanto para o clube.

sábado, 5 de agosto de 2023

Níger — Um País Estratégico no Coração da África

O Niger está situado na região do Sahel, uma faixa de terra semiárida que se estende do Senegal ao Sudão, e que é considerada uma zona de transição entre o deserto do Saara e a savana africana. Essa região é afetada por problemas como a seca, a fome, a pobreza, a desertificação, a imigração e o terrorismo. O país faz fronteira com sete países, alguns dos quais enfrentam conflitos armados, como a Líbia, o Mali e a Nigéria. Por isso, o Níger é visto como um país-chave para a estabilidade e a segurança da região.

 

O Níger é o quarto maior produtor de urânio do mundo

O país possui grandes reservas de urânio, um mineral usado para produzir energia nuclear e armas nucleares, sendo este país africano o quarto maior produtor de urânio do mundo, e fornecendo cerca de 5% da demanda global. A França é o principal comprador do urânio nigerino, mas outros países, como a China, também têm interesse nesse recurso.

O Níger também possui potencial para explorar outros recursos naturais, como petróleo, ouro, minério de ferro, carvão e fosfatos. Esses recursos podem atrair investimentos estrangeiros e aumentar a renda do país, mas também podem gerar conflitos e disputas pelo controle dessas riquezas, e é exatamente o que tem acontecido nos últimos tempos.

Localizado no "coração da África", a posição geográfica do Níger é
extremamente estratégica

 

 A história do Níger é marcada por momentos de desafios e mudanças significativas. Desde sua independência da França em 1960, o país atravessou diversas fases políticas, enfrentando ditaduras, golpes militares e, mais recentemente, transitando para um sistema democrático multipartidário.

Após a independência, o Níger foi liderado por Hamani Diori, que estabeleceu um regime de partido único e governou com mão de ferro. Essa ditadura perdurou até 1974, quando Diori foi deposto por Seyni Kountché em um golpe militar. Sob o governo de Kountché, o país enfrentou um regime autoritário que durou até sua morte em 1987. Ali Saibou assumiu o poder, foi presidente de 1987 a 1993. Era chamado de Homem da resolução dos conflitos, e instituiu o multi-partidarismo após pressões da sociedade

 

Presidente Ali Saibou — presidente de seu país de 1987 a 1993 — "o homem da resolução dos conflitos"

Foi em 1991, após uma conferência nacional que reuniu diversos setores da sociedade nigerina, que uma nova constituição foi adotada, estabelecendo uma república semipresidencialista e multipartidária. Esse momento histórico marcou a transição para a democracia no país e permitiu a realização de eleições livres e transparentes, resultando na eleição de Mahamane Ousmane em 1993.

 

Mahamane Ousmane — Primeiro Presidente democraticamente eleito do Níger (1993 e 1996)

 

No entanto, o mandato de Ousmane foi conturbado por conflitos políticos e sociais, incluindo uma rebelião dos Tuaregues no norte e uma crise econômica causada pela queda dos preços do urânio, principal produto de exportação do Níger. Essas dificuldades abriram caminho para outro golpe militar em 1996, liderado por Ibrahim Baré Maïnassara, que se autoproclamou presidente após uma eleição contestada.

A partir de 1999, o Níger começou a vivenciar uma restauração da democracia com a realização de novas eleições livres e transparentes, resultando na eleição de Mamadou Tandja como presidente. Tandja iniciou um processo de desenvolvimento econômico e social, aproveitando os recursos naturais do país, mas também enfrentou desafios como a fome, a pobreza, a corrupção e a instabilidade regional.

Em 2010, um novo golpe militar ocorreu, desta vez em resposta às tentativas de Tandja de alterar a constituição para se manter no poder além dos dois mandatos previstos. Esse golpe abriu caminho para a restauração da democracia e a eleição de Mahamadou Issoufou em 2011, marcando mais uma transição pacífica de poder no país.


O Golpe de Estado ocorrido em 2023 no Níger teve consequências negativas para a estabilidade e a democracia do país e da região. O golpe foi liderado pela guarda presidencial, que deteve o presidente Mohamed Bazoum e o substituiu pelo general Abdourahamane Tchiani, chefe da junta militar que se autodenominou Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria. Os golpistas alegaram que agiram em defesa da segurança nacional e do povo nigerino, diante da deterioração da situação socioeconômica e da ameaça dos grupos armados

No entanto, o golpe foi amplamente condenado pela comunidade internacional, que exigiu o retorno imediato à ordem constitucional e a libertação do presidente deposto. A França, os Estados Unidos e a União Europeia suspenderam sua cooperação militar e econômica com o Níger, enquanto a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) impôs sanções diplomáticas e comerciais ao país. Além disso, o golpe gerou protestos populares na capital Niamey e em outras cidades, onde milhares de pessoas saíram às ruas para apoiar ou rejeitar a junta militar

O golpe também teve repercussões geopolíticas na região do Sahel, que já estava marcada por uma série de golpes militares nos últimos anos. Alguns analistas apontaram que o golpe no Níger foi provavelmente influenciado pela presença de mercenários russos do grupo Wagner no Mali, que apoiam o regime militar instalado após dois golpes em 2021. Esses mercenários teriam oferecido apoio logístico e financeiro aos golpistas nigerinos, em troca de acesso aos recursos naturais do país. Essa hipótese foi reforçada pela presença de bandeiras russas nas manifestações favoráveis ao golpe no Níger.

General Abdourahamane Tchiani — líder da junta militar

 

A pobreza no Níger é um problema grave que afeta a maioria da população do país. Segundo a ONU, o Níger tem o terceiro menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, com 0,400 pontos em 2021. Isso significa basicamente que o país tem os mais baixos níveis de renda, educação e saúde do mundo. Ou seja, ao mesmo tempo em que precisa se preocupar com a estabilidade da região, o país enfrenta questões de soberania nacional e bem-estar da população.

Ao longo de sua história, O Niger tem sido um país de importância estratégica para várias potências mundiais devido aos seus recursos naturais, sua localização geográfica e seu papel na luta contra grupos extremistas no Sahel. Mas, esses desafios e a necessidade de consolidar a democracia e a estabilidade tornam essa jovem república uma nação em constante busca por desenvolvimento e crescimento. 



terça-feira, 1 de agosto de 2023

Koh-i-Noor — O Valioso diamante da realeza britânica

    O Koh-i-Noor é uma das gemas mais famosas e controversas do mundo, com uma história que se estende por mais de quatro séculos, repleta de conquistas, intrigas e disputas entre diferentes países e povos. Sua origem é cercada de incertezas, e várias versões sobre sua descoberta, corte e posse ao longo do tempo permeiam a narrativa. Desde menções em textos antigos em sânscrito e mesopotâmicos até sua passagem pelas mãos de líderes e imperadores como o sultão ʿAlāʾ-ud-Dīn Khaljī, o fundador da dinastia mogol Bābur e o imperador mogol Shah Jahān, o Koh-i-Noor foi cobiçado e transitou por diversos governantes e dinastias.

O nome Koh-i-Noor significa “Montanha de Luz” em persa. Uma referência
ao seu brilho e tamanho


    A história do diamante também está entrelaçada com o cenário de conquistas e invasões. Nāder Shah, da Pérsia, saqueou o diamante durante a invasão de Delhi em 1739, e a pedra passou pelas mãos de seus descendentes afegãos, os Durrānīs. Finalmente, foi adquirido pelos britânicos após a anexação do Punjab em 1849 e incorporado às joias da coroa da rainha Vitória após seu recorte em 1852 pelo joalheiro real Garrard de Londres. A despeito das falhas internas que resultaram em perda de tamanho, o Koh-i-Noor tornou-se uma joia deslumbrante, adornando diversos itens ao longo dos anos.

    A controvérsia em torno do Koh-i-Noor é intensa, especialmente por parte da Índia, que repetidamente exige a devolução da pedra, alegando que ela foi roubada ou obtida de forma ilegítima, além de ser considerada um símbolo da conquista colonial e da exploração do país. Outros países, como o Paquistão, o Afeganistão e o Irã, também reivindicaram sua propriedade. Até mesmo o Talibã no Afeganistão manifestou interesse em tê-lo de volta.

    A questão da devolução é tão delicada que a rainha Elizabeth II evitou usar a coroa imperial da Índia em suas visitas ao país, e o futuro Rei Charles III também absteve-se de usá-la em sua coroação para evitar problemas diplomáticos com a Índia.

    Ademais, o Koh-i-Noor é visto por alguns como uma gema amaldiçoada, associada a má sorte e até morte para seus proprietários. Lendas hindus reverenciam o diamante como uma joia dos deuses, mas também o amaldiçoam por tentativas de roubo por parte de reis humanos. Outra crença afirma que somente mulheres ou deuses podem usá-lo, sendo que qualquer homem que o fizer enfrentará infortúnios.

    Muito mais do que uma pedra preciosa; a joia é um símbolo de riqueza, poder e história, mas também de disputas, dilemas e mistérios que continuam a despertar paixões e debates ao redor do mundo.

Veja Também: Onde está a Fortuna da Coroa



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