A rivalidade entre Israel e Irã é um dos conflitos mais complexos do mundo. As consequências de rivalidade moldam a segurança e a estabilidade do Oriente Médio, e colocando repetidamente a atenção mundial na região.
A Fundação de Israel e os Primeiros Contatos com o Irã
Israel foi fundado em 1948, logo após o fim do Mandato Britânico na Palestina, com amplo apoio das Nações Unidas e dos Estados Unidos. A criação do Estado judeu foi imediatamente contestada por muitos países árabes e muçulmanos, que se recusaram a reconhecê-lo e passaram a considerá-lo uma entidade ilegítima no coração do mundo islâmico.
Curiosamente, o Irã — sob o regime do Xá Mohammad Reza Pahlavi, — manteve uma postura mais pragmática durante os primeiros anos do Estado israelense. Apesar de não reconhecer oficialmente Israel por muitos anos, o Irã manteve laços comerciais e estratégicos com Tel Aviv, especialmente na década de 1960 e início dos anos 1970. Havia um interesse mútuo: o Irã buscava um aliado não árabe na região, e Israel via no Irã uma potência estratégica contra o discurso pan-árabe anti-israelense.
A Revolução Islâmica de 1979: A Ruptura Completa
Tudo mudou em 1979, após a Revolução Islâmica. O Xá foi deposto e substituído por um regime teocrático liderado pelo Aiatolá Khomeini. Desde o início, o novo regime iraniano adotou uma postura fortemente anti-israelense. A destruição de Israel tornou-se parte do discurso oficial do novo governo, sendo constantemente repetida por suas lideranças até os dias atuais.
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Após a Revolução Islâmica o Irã adotou uma postura anti-israelense |
A justificativa religiosa e ideológica do Irã teocrático baseia-se em sua leitura do Islã xiita, combinada com um discurso anti-imperialista. Israel é retratado como uma extensão dos interesses ocidentais, em especial dos Estados Unidos, no Oriente Médio. Para os aiatolás, Israel representa a ocupação da terra sagrada de muçulmanos e é o símbolo máximo da dominação ocidental.
Grupos Proxys e o Conflito Assimétrico
Apesar de não haver confronto militar direto entre os dois países, o Irã tem investido maciçamente no financiamento e armamento de grupos que operam nas fronteiras de Israel. O principal deles é o Hezbollah, um grupo xiita baseado no Líbano, criado com apoio iraniano nos anos 1980. O Hezbollah já travou vários confrontos armados com Israel, especialmente a guerra de 2006, e mais recente conflito que alcançou seu ápice quando a força aérea de Israel eliminou de Hassan Nasrallah, líder da organização.
Outro grupo apoiado pelo Irã é o Hamas, movimento sunita que controla a Faixa de Gaza. Embora existam diferenças sectárias entre xiitas e sunitas, a causa anti-Israel tem sido suficiente para alinhar interesses entre Teerã e o Hamas. O apoio de Teerã inclui dinheiro, armamentos, treinamento e tecnologia de foguetes.
O Programa Nuclear Iraniano
Um dos aspectos mais sensíveis dessa rivalidade é o programa nuclear do Irã. Teerã insiste que seu programa tem fins pacíficos, mas Israel — com o apoio dos EUA e de várias potências ocidentais — acusa o Irã de buscar a capacidade de construir armas nucleares. Para Israel, a possibilidade de um Irã nuclear representa uma ameaça existencial.
Israel tem trabalhado ativamente para impedir esse avanço. Além de pressionar por sanções internacionais e ter se oposto fortemente ao Acordo Nuclear de 2015 (conhecido como JCPOA), Israel é amplamente acusado de realizar sabotagens e ações de eliminação seletiva de cientistas iranianos. Em várias ocasiões, autoridades israelenses afirmaram que impedirão o Irã de obter capacidade nuclear militar "a qualquer custo".
Consequências Geopolíticas
A rivalidade entre Israel e Irã afeta diretamente a estabilidade do Oriente Médio. Ela alimenta conflitos por procuração, intensifica tensões sectárias (entre sunitas e xiitas), fortalece alianças militares e impede o avanço de soluções diplomáticas em países como Síria, Líbano, Iêmen e Iraque.
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Israel tem trabalhado diplomaticamente em uma aliança contra o Irã |
Do lado israelense, há uma crescente aproximação com países árabes que compartilham o temor ao Irã. O Acordo de Abraão, assinado em 2020, normalizou relações diplomáticas entre Israel e países como Emirados Árabes Unidos e Bahrein, numa aliança tácita contra a influência iraniana.
Já o Irã continua a tentar consolidar seu papel como potência regional, buscando criar uma rede de influência militar e ideológica por meio de seus aliados, visando impedir desestabilizar influencia israelense.
O Futuro: Perspectivas e Incertezas
As perspectivas de paz ou reconciliação entre Irã e Israel são extremamente limitadas. A retórica iraniana sobre a destruição de Israel permanece viva, e o contínuo apoio iraniano a grupos armados deixa pouco espaço para diálogo. Do lado israelense, o medo de um Irã nuclear e a presença militar iraniana em países vizinhos justificam uma política externa agressiva.
Enquanto ambos os lados veem o outro como uma ameaça existencial, a rivalidade tende a continuar. O risco é que, em algum momento, a guerra indireta se transforme em um confronto direto de grandes proporções.
Em última instância, o conflito entre Israel e Irã é mais do que uma disputa territorial ou ideológica — é o símbolo da polarização do Oriente Médio entre blocos antagônicos, representando um dos principais obstáculos à estabilidade regional e à paz duradoura.
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