A destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. foi um evento de grande importância tanto para a história romana quanto para a história do povo judeu. A verdade é que romanos jamais poderiam imaginar que uma ação militar contra um povo de uma das províncias mais remotas do império, causaria tanta influencia na história futura do mundo.
Este evento ocorreu no contexto da Primeira Revolta Judaica contra o Império Romano (66-73 d.C.), também chamada de Grande Revolta Judaica. As causas do conflito, a destruição de Jerusalém e suas consequências são complexas, envolvendo questões políticas, religiosas e sociais que afetaram profundamente o povo judeu e a região da Judeia.
A destruição de Jerusalém no ano 70 d.C mudou a História do Oriente Médio |
Causas da destruição de Jerusalém
A destruição de Jerusalém e de seu Templo foi o culminar de tensões acumuladas entre os judeus e o Império Romano. As razões para essa revolta estão enraizadas em uma combinação de fatores políticos, econômicos e religiosos que tornaram a convivência entre os judeus e as autoridades romanas cada vez mais insustentável.
Em 63 AC, Pompeu (63-48 AC) invadiu e tomou Jerusalém. Iniciando assim a dominação romana, que termina nos inícios do 2º século da era cristã, quando a Bíblia como conhecemos, foi praticamente fica concluída.
A Judeia tornou-se uma província romana em 6 d.C., e a partir desse momento, o povo judeu passou a viver sob o domínio direto de Roma. O governo romano impunha altos tributos e taxas, o que gerava grande insatisfação, especialmente entre as classes mais pobres da sociedade. Além disso, a administração romana era frequentemente corrupta e insensível às preocupações locais. Governadores como Pôncio Pilatos, por exemplo, agravaram as tensões ao desrespeitar costumes judaicos, como ao introduzir símbolos considerados pagãos em Jerusalém.
Em 63 AC Pompeu (63-48 AC) invadiu e tomou Jerusalém |
Outro fator importante foi o choque entre o monoteísmo judaico e o politeísmo romano. O culto ao imperador, uma prática comum em todo o Império Romano, era visto como uma blasfêmia pelos judeus, que se recusavam a adorar o imperador como uma divindade. A religião judaica, com suas práticas e crenças exclusivas, diferenciava os judeus do restante do Império, e a defesa intransigente de sua fé por parte de muitos judeus criou atritos constantes com as autoridades romanas, que consideravam a religião parte essencial da ordem social.
Durante este período, surgiram diversos grupos e líderes judeus que defendiam a revolta contra Roma e a restauração da independência judaica. Grupos como os zelotes, que eram nacionalistas e religiosos extremistas, defendiam a violência como meio de libertação. Muitos judeus acreditavam que o Messias prometido por suas Escrituras viria para libertá-los do jugo romano. Esses sentimentos fomentaram a revolta que eclodiu em 66 d.C., quando os judeus começaram a lutar contra as forças romanas, capturando Jerusalém e outras partes da Judeia.
A Revolta Judaica e o Cerco de Jerusalém
A Revolta Judaica começou em 66 d.C. e inicialmente teve algum sucesso. Os rebeldes judeus conseguiram repelir as forças romanas e tomar o controle de Jerusalém e de outras cidades. No entanto, o imperador romano Nero enviou o general Vespasiano para subjugar a revolta. Vespasiano foi bem-sucedido em recuperar grande parte da Judeia, mas o cerco final de Jerusalém foi deixado para seu filho Tito, que assumiu o comando após Vespasiano se tornar imperador.
O cerco de Jerusalém começou em 70 d.C. e foi uma das operações militares mais brutais da época. Tito cercou a cidade, cortando o fornecimento de alimentos e água, o que levou os habitantes de Jerusalém a sofrerem de fome extrema. A situação dentro das muralhas era caótica, com facções judaicas rivais lutando entre si, agravando ainda mais a crise.
Após vários meses de cerco, as forças romanas romperam as defesas da cidade e entraram em Jerusalém. O Templo de Jerusalém, o centro da vida religiosa e nacional judaica, foi incendiado e destruído. Segundo o historiador judeu Flávio Josefo, que testemunhou a queda da cidade, o número de mortos foi imenso. Josefo estimou que cerca de um milhão de judeus pereceram no cerco, embora esses números possam ser exagerados.
Consequências para o Povo Judeu
A perda do Segundo Templo foi um golpe espiritual e psicológico profundo para os judeus. O Templo era o coração do culto judaico, o lugar onde os sacrifícios eram oferecidos e onde a presença de Deus era entendida como particularmente manifesta. Com sua destruição, o judaísmo passou por uma transformação, com o surgimento de um sistema religioso centrado mais em sinagogas e na Torá, sob a liderança dos rabinos, uma vez que os sacrifícios não podiam mais ser oferecidos.
A perda do Segundo Templo foi um golpe espiritual e psicológico no povo judeu |
Após a queda de Jerusalém, muitos judeus foram mortos ou vendidos como escravos. Outros foram forçados a se dispersar pelo Império Romano, ampliando o fenômeno da diáspora judaica. A Judeia, embora continuasse a ter uma população judaica, nunca mais seria o centro do poder político e religioso dos judeus como fora antes.
A destruição de Jerusalém marcou o fim da resistência judaica organizada contra o domínio romano. O governo romano reorganizou a província da Judeia, e a partir desse ponto, os judeus perderam qualquer forma de autonomia. As tentativas posteriores de revolta, como a Revolta de Bar Kokhba (132-135 d.C.), também fracassaram e resultaram em ainda mais repressão, incluindo a proibição de os judeus entrarem em Jerusalém.
Impacto na Sociedade Judaica
A liderança religiosa passou a ser exercida pelos rabinos, e não mais pelos sacerdotes do Templo. Esta mudança ajudou a preservar a identidade judaica durante os séculos seguintes de dispersão e perseguição.
A destruição de Jerusalém também teve consequências para os primeiros cristãos. Como o cristianismo surgiu dentro do contexto do judaísmo, muitos dos primeiros cristãos eram judeus. A destruição do Templo foi vista por muitos cristãos como uma confirmação de que Deus estava transferindo Seu favor para a nova aliança estabelecida em Cristo. Isso também contribuiu para o afastamento progressivo entre o cristianismo e o judaísmo, que se tornaram religiões distintas com o passar do tempo.
Para o Império Romano, foi uma vitória militar, mas para o povo judeu, foi um trauma profundo que moldou o judaísmo e suas comunidades na diáspora por séculos. Esse evento também influenciou o desenvolvimento do cristianismo e as relações entre judeus e cristãos nos séculos subsequentes. A destruição de Jerusalém permanece um símbolo de luto na tradição judaica até os dias de hoje.
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