sábado, 5 de agosto de 2023

Níger — Um País Estratégico no Coração da África

O Niger está situado na região do Sahel, uma faixa de terra semiárida que se estende do Senegal ao Sudão, e que é considerada uma zona de transição entre o deserto do Saara e a savana africana. Essa região é afetada por problemas como a seca, a fome, a pobreza, a desertificação, a imigração e o terrorismo. O país faz fronteira com sete países, alguns dos quais enfrentam conflitos armados, como a Líbia, o Mali e a Nigéria. Por isso, o Níger é visto como um país-chave para a estabilidade e a segurança da região.

 

O Níger é o quarto maior produtor de urânio do mundo

O país possui grandes reservas de urânio, um mineral usado para produzir energia nuclear e armas nucleares, sendo este país africano o quarto maior produtor de urânio do mundo, e fornecendo cerca de 5% da demanda global. A França é o principal comprador do urânio nigerino, mas outros países, como a China, também têm interesse nesse recurso.

O Níger também possui potencial para explorar outros recursos naturais, como petróleo, ouro, minério de ferro, carvão e fosfatos. Esses recursos podem atrair investimentos estrangeiros e aumentar a renda do país, mas também podem gerar conflitos e disputas pelo controle dessas riquezas, e é exatamente o que tem acontecido nos últimos tempos.

Localizado no "coração da África", a posição geográfica do Níger é
extremamente estratégica

 

 A história do Níger é marcada por momentos de desafios e mudanças significativas. Desde sua independência da França em 1960, o país atravessou diversas fases políticas, enfrentando ditaduras, golpes militares e, mais recentemente, transitando para um sistema democrático multipartidário.

Após a independência, o Níger foi liderado por Hamani Diori, que estabeleceu um regime de partido único e governou com mão de ferro. Essa ditadura perdurou até 1974, quando Diori foi deposto por Seyni Kountché em um golpe militar. Sob o governo de Kountché, o país enfrentou um regime autoritário que durou até sua morte em 1987. Ali Saibou assumiu o poder, foi presidente de 1987 a 1993. Era chamado de Homem da resolução dos conflitos, e instituiu o multi-partidarismo após pressões da sociedade

 

Presidente Ali Saibou — presidente de seu país de 1987 a 1993 — "o homem da resolução dos conflitos"

Foi em 1991, após uma conferência nacional que reuniu diversos setores da sociedade nigerina, que uma nova constituição foi adotada, estabelecendo uma república semipresidencialista e multipartidária. Esse momento histórico marcou a transição para a democracia no país e permitiu a realização de eleições livres e transparentes, resultando na eleição de Mahamane Ousmane em 1993.

 

Mahamane Ousmane — Primeiro Presidente democraticamente eleito do Níger (1993 e 1996)

 

No entanto, o mandato de Ousmane foi conturbado por conflitos políticos e sociais, incluindo uma rebelião dos Tuaregues no norte e uma crise econômica causada pela queda dos preços do urânio, principal produto de exportação do Níger. Essas dificuldades abriram caminho para outro golpe militar em 1996, liderado por Ibrahim Baré Maïnassara, que se autoproclamou presidente após uma eleição contestada.

A partir de 1999, o Níger começou a vivenciar uma restauração da democracia com a realização de novas eleições livres e transparentes, resultando na eleição de Mamadou Tandja como presidente. Tandja iniciou um processo de desenvolvimento econômico e social, aproveitando os recursos naturais do país, mas também enfrentou desafios como a fome, a pobreza, a corrupção e a instabilidade regional.

Em 2010, um novo golpe militar ocorreu, desta vez em resposta às tentativas de Tandja de alterar a constituição para se manter no poder além dos dois mandatos previstos. Esse golpe abriu caminho para a restauração da democracia e a eleição de Mahamadou Issoufou em 2011, marcando mais uma transição pacífica de poder no país.


O Golpe de Estado ocorrido em 2023 no Níger teve consequências negativas para a estabilidade e a democracia do país e da região. O golpe foi liderado pela guarda presidencial, que deteve o presidente Mohamed Bazoum e o substituiu pelo general Abdourahamane Tchiani, chefe da junta militar que se autodenominou Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria. Os golpistas alegaram que agiram em defesa da segurança nacional e do povo nigerino, diante da deterioração da situação socioeconômica e da ameaça dos grupos armados

No entanto, o golpe foi amplamente condenado pela comunidade internacional, que exigiu o retorno imediato à ordem constitucional e a libertação do presidente deposto. A França, os Estados Unidos e a União Europeia suspenderam sua cooperação militar e econômica com o Níger, enquanto a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) impôs sanções diplomáticas e comerciais ao país. Além disso, o golpe gerou protestos populares na capital Niamey e em outras cidades, onde milhares de pessoas saíram às ruas para apoiar ou rejeitar a junta militar

O golpe também teve repercussões geopolíticas na região do Sahel, que já estava marcada por uma série de golpes militares nos últimos anos. Alguns analistas apontaram que o golpe no Níger foi provavelmente influenciado pela presença de mercenários russos do grupo Wagner no Mali, que apoiam o regime militar instalado após dois golpes em 2021. Esses mercenários teriam oferecido apoio logístico e financeiro aos golpistas nigerinos, em troca de acesso aos recursos naturais do país. Essa hipótese foi reforçada pela presença de bandeiras russas nas manifestações favoráveis ao golpe no Níger.

General Abdourahamane Tchiani — líder da junta militar

 

A pobreza no Níger é um problema grave que afeta a maioria da população do país. Segundo a ONU, o Níger tem o terceiro menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, com 0,400 pontos em 2021. Isso significa basicamente que o país tem os mais baixos níveis de renda, educação e saúde do mundo. Ou seja, ao mesmo tempo em que precisa se preocupar com a estabilidade da região, o país enfrenta questões de soberania nacional e bem-estar da população.

Ao longo de sua história, O Niger tem sido um país de importância estratégica para várias potências mundiais devido aos seus recursos naturais, sua localização geográfica e seu papel na luta contra grupos extremistas no Sahel. Mas, esses desafios e a necessidade de consolidar a democracia e a estabilidade tornam essa jovem república uma nação em constante busca por desenvolvimento e crescimento. 



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